05.01.14
Nas mil e uma vezes em que planeei mentalmente como é que iria escrever esta opinião pensava sempre: "Vou tentar falar do livro de forma individual e não apenas como a parte final de uma série." E tantas vezes pensei isso que concluí que seria um erro: afinal de contas este é o livro final de uma série, esta é a última história de um capítulo da vida da história da Sookie Stackhouse.
Quando um escritor decide começar a contar uma história deveria pensar: "Porque vou eu contar esta história? Porque vale a pena contá-la?" Porque eu, sem dúvida alguma, sempre que pego num livro na livraria e pondero compra-lo ou, quando abro um livro para o começar a ler, penso "Porque é que eu devo ler este livro? O que vou ganhar em ler esta história?".
Há um contrato subentendido entre autor e leitor em cada livro comprado: ao primeiro de escrever uma boa história, ao segundo de apreciar a viagem do herói e de ver as suas expectativas, sejam elas quais forem, satisfeitas. Não é obrigação do autor de ir ao encontro de determinadas expectativas assim como não é dever de um leitor de ficar satisfeito com uma má história.
Neste livro, que é o final de uma série, havia a obrigação de responder a uma pergunta colocada no primeiro livro: Como é que a Sookie iria viver com a sua telepatia, capacidade que a inibia de se relacionar de forma normal com humanos e que, por isso mesmo, a levou a namorar com um vampiro? Eu li 12 livros à espera de encontrar a resposta a esta pergunta. A fórmula parece simples: A heroína sente-se deslocada da sociedade, descobre que a sua deficiência é um super-poder e torna-se super-heroína.
A heroína não se torna uma dona-de-casa mãe de quatro filhos e feliz por voltar a integrar, de forma aparentemente normal, a sociedade que antes a rejeitava. Ela não se contenta por ficar com o gajo normal e desinteressante. MEU DEUS, ninguém lê livros de Fantasia Urbana porque quer que a heroína, que lida com vampiros, metamorfos, lobisomens, demónios e fadas, se torne numa mulher normal, como nós. Que felicidade tiro eu como leitora de fechar o 13º livro de uma saga e a suposta heroína ainda achar que a sua telepatia é uma espécie de deficiência? Que é melhor afastar-se dos vampiros, que antes lhe deram conforto e protecção porque não podem procriar?! Que a mensagem transmitida é que a única fonte de felicidade possível é casar, ter filhos e contentar-se com um emprego medíocre?
Desde Abril que tento perceber porque é que a autora fez estas opções. Várias hipóteses se levantaram: falta de motivação em escrever mais um livro da saga, vontade de dar uma lição aos fãs e mostrar-lhes que era superior ao que estes exigiam como final da série, incapacidade de lidar com o enorme universo que criou, etc. Em Setembro, quando finalmente li o livro, pensei que já não estivesse chateada com o seu conteúdo e que iria ser capaz de o ler com o devido distanciamento e compreender as suas escolhas. Não fui. Hoje, quase cinco meses depois de o ter terminado, já não me interessa saber o porquê. Vou relegar esta autora para a minha lista de "não voltar a ler". Ao escrever algo tão mau, desleixado e insatisfatório só me fez temer pelas outras séries do mesmo género que estou a acompanhar. Temo que outras autoras lhe sigam o exemplo.
Devo muito à Charlaine Harris e aos livros da Sookie Stackhouse, eles ofereceram-me entretenimento e acesso a um mundo que desconhecia: fiz amigos além-fronteiras, ajudei a dinamizar uma comunidade de fãs em Portugal, criei um bom relacionamento com a editora Saída de Emergência (que os editou em Portugal), fizeram-me ler um género de livros que nunca leria se não fosse a série de tv. Até conheci a autora quando veio a Portugal: uma senhora muito amável e bem-humorada. Mesmo assim, apesar da euforia, não sou fã incondicional. Sou fã de boas histórias. Sinto-me incapaz de defender esta saga como antes o fazia perante as más criticas que recebia.
Por fim um breve resumo do livro: Aparentemente alguém tenta matar a Sookie e ela acaba presa já não me lembro bem porquê e ela chama os amigos não vampiros para ajudar e afinal já se pode regressar da terra das fadas quando se quer e fazer a vingança final e a Sookie é incapaz de perdoar a uma boa amiga apenas porque ela lhe tentou um arranjinho no passado. Ah e os vampiros são maus e afinal já não faz mal acasalar com pessoas de quem podemos ouvir os pensamentos.
A sério, a história é simplesmente isto. É apenas mais uma história de crime e mistério. Não ganhei nada em lê-la e quero esquecer que a li.
Nomes dos personagens: Sookie Stackhouse, Bill Compton, Sr. Cataliades, Sam Merlotte, Eric Northman, Pam.
Nomes dos lugares: Bon Temps.
Conteúdo sexual: Uma cena de sexo.
Tipo de cenas: A cena é, na sua maioria, incomoda de se ler, em vez de excitante que é o que a autora deveria estar a tentar fazer e falhou redondamente.
Pontos positivos: Acabou, finito.
Pontos negativos: Não deveria existir sequer, como um todo.
Fez-me reflectir sobre: Se vale a pena continuar a investir em séries de livros.
Autor: Charlaine Harris
Série: Sangue Fresco (#13)
Editora: Saída de Emergência
Estante: Fantasia Urbana
Período de leitura: de 3 a 16 de Setembro
Formato: Papel
Língua: Português
Classificação: 1*: Quero esquecer que o li de tão mau que é.