Expectativa: Ó que tola que fui por estar tão receosa de ler este livro, que tola. Deixei que um milhão e meio de dúvidas idiotas me impregnassem e andei a adiar constantemente a leitura deste livro. Depois acabei por ler com a desculpa "por ser por obrigação" porque ia fazer o "Só Ler não Basta" dedicado ao Steampunk em Fevereiro e é óbvio que a leitura foi um verdadeiro prazer.
Estado de espírito: Bom, estava em modo "steampunk" para preparar a discussão para o "Só Ler Não Basta" e o regresso ao mundo "The Iron Seas" era uma forma segura de entrar no estado de espírito certo.
Opinião: O meu irmão tem uma estranha teoria sobre o sucesso das bandas. Segundo ele, se o terceiro álbum de uma banda for um mega-sucesso, tem uma carreira garantida. Três foi a conta que Deus fez. Certo ou não, eu tenho aplicado essa regra não só aos álbuns das bandas mas também aos livros: normalmente se gostar até ao terceiro livro de um autor ou saga, irei provavelmente ler muitos mais. O caso do "Riveted" é que era o terceiro da saga "Iron Seas" e seria provavelmente um "deal breaker" para mim: apesar de ter gostado bastante dos dois anteriores, receava que este não fosse tão bom e que matasse o meu amor pela saga. Posso seguramente dizer que tal não aconteceu.
Por um lado compreendo o meu receio pré-leitura: este "Riveted" é a história mais isolada do universo até ao momento. Nas histórias anteriores ainda encontravamos personagens ou lugares que faziam a ponte entre histórias e que de certa forma faziam o leitor sentir que não está apenas a ler uma sequência de histórias num universo comum mas também uma saga, em que todos os personagens parecem fazer parte de um plano maior. Riveted tem muito pouco ou nada em comum com as personagens ou lugares do "The Iron Duke" ou "Heart of Steel". Da publicidade que foi feita eu sabia que esta história divergia bastante no espaço e ligações às personagens que conhecíamos anteriormente. Mas é, apesar de tudo, um romance da Meljean Brook e por isso não desilude, pelo contrário. Apesar do início de história ser de facto pouco cativante (uma mulher em busca da irmã desaparecida e um homem em busca da aldeia misteriosa da mãe), com as reviravoltas que o enredo sofre, depressa se torna uma viagem mirabolante, uma aventura cheia de perigos e obstáculos incríveis. Com a Islândia como pano de fundo, há gelo, mar, vulcões, minas e trolls para colorir a história.
Esta autora tem o talento de escrever personagens femininas muito fortes e cativantes, verdadeiras heroínas a três dimensões e, neste romance, Annika é tudo isso, mas pouco. Passo a explicar: senti que já apanhava a aventura dela a meio e por isso não senti que ela tivesse que ultrapassar grandes perigos ou que tivesse que ultrapassar uma grande barreira emocional para ficar com o David. A grande dor dela durante parte do livro era se poderia ou não confiar nele, depois se ele iria ficar com ela mas nada que uma boa conversa não resolvesse, na minha opinião.
Já por outro lado David surpreendeu-me bastante e enamorei-me totalmente por ele. De tal forma que dei por mim a pensar a certo ponto: "Eu gosto assim da Annika apenas porque o David gosta dela e está a sofrer neste momento e eu não suporto vê-lo sofrer". A história dele é comovente e enriquecedora, porque não é comum ler-se histórias de pessoas com deficiências físicas, e surpreendi-me com a força e o caracter dele e emocionei-me com o romance dos dois.
Há também uma reflexão social (e sexual) que é colocada de uma forma muito interessante na história e que é essencial para a resolução do conflito dos personagens principais, que também é uma discussão muito actual nos dias de hoje.
Assim, posso concluir que "Riveted" não só não desiludiu como foi uma excelente adição ao mundo de "The Iron Seas": deu a perspectiva do que acontece noutras partes do mundo na mesma época, como outras culturas foram afectadas, como pensam, como estão a evoluir, que invenções estão a surgir ou como reagem perante os infectados.
Resumo: Há 5 anos que Annika vagueia pelo mundo à procura da sua irmã, que abandonou a vila secreta onde viviam na Islândia. Há muitos anos que David procura a localidade secreta perto de um vulcão na Islândia onde cresceu a sua mãe, para lá poder enterrar as suas cinzas, tal como lhe prometeu no momento da sua morte. Por um mero acaso os seus destinos cruzam-se no Phatéon, a aeronave aonde trabalha Annika e que vai levar a expedição geológica de David Kentwess à Islândia. Quando David percebe que Annika poderá ser da mesma vila secreta que a sua mãe tudo faz para que ela lhe revele a sua localização mas, ao cruzarem-se com um lunático que ataca navios usando uma baleia mecânica, o mais provável é que os dois nem sobrevivam para lá conseguir chegar.
Pontos positivos: As reviravoltas mirabolantes e surpreendentes da história. A forma inteligente como é abordada a questão da deficiência física de David. A reflexão sobre a homosexualidade.
Pontos negativos: Um início um pouco lento, um vilão demasiado breve e uma heroína pouco interessante.
Fez-me reflectir sobre: Deu-me vontade de visitar a Islândia. Dei por mim a ver um documentário sobre os vulcões da Islândia e realmente há mesmo muito sobre a geologia daquela região que é interessante e merece ser preservada.
Excerto / Citação: "When you're surrounded by stupidity, self-preservation isn't a sin."
Notas: A autora pediu-me, já na fase da revisão, para ajudá-la com uma dúvida de português e eu concordei em ajudá-la. Acabou por não ser necessário porque afinal já tinha utilizado o termo sobre o qual tinha dúvidas anteriormente e decidiu manter o mesmo termo mas mesmo assim foi simpática o suficiente para me adicionar à mesma aos agradecimentos. Eu sim é que lhe ficarei eternamente agradecida.