Resumo: Num planeta Terra moribundo, onde apenas habitam aqueles que não podem emigrar para outros planetas ou aqueles que não o querem deixar, acompanhamos um dia na vida de Rick Deckard, caçador de androides. A sua missão é retirar seis androides Nexus-6 mas esta tarefa vai ser mais complicada do que previa porque este modelo de androide é, até ao momento, o que melhor imita o ser humano.
Expectativa: Hiper-mega-alta, o livro que deu origem a um dos meus filmes favoritos de sempre. Em conversas recentes com dois amigos meus e após ver o seu grande entusiasmo sobre o livro, decidi sacudir-lhe o pó e descobrir porque é que este é considerado um dos melhores livros geek de sempre.
Opinião: Aqui está uma opinião tirada a ferros. A razão? O medo de tropeçar e de dizer asneira ou de dizer pouco, considerando que este é um dos livros clássicos de FC.
Esperava um livro mais semelhante ao filme e o primeiro embate foi reajustar-me a este mundo criado por Philip K. Dick e tentar dissocia-lo daquele criado por Ridley Scott. Depois foi tentar compreender um mundo distópico muito mais avançado ao que temos atualmente e que existe em 1993. Feitos os devidos ajustes mergulhei totalmente neste universo em que o planeta Terra está moribundo, cheio de lixo e de cinza e escasso em humanos, onde os animais estão quase todos extintos e são bens preciosos. As imagens e ideias que ele contém são fantásticas: ciborgues em tudo quase humanos, humanos que vivem isolados em prédios abandonados porque não conseguiram emigrar para Marte e que só têm a companhia da TV, que apenas transmite um canal o dia todo. Caixas de empatia que criaram uma nova religião. Aparelhos que modificam o nosso estado de espírito.
Há dois tipos de humanos neste livro, representados por Rick Deckard e J.R.Isidore, assim como dois tipos de ciborgues: os Nexus 6 e os animais artificiais. Com o auxilio destes elementos o autor permite-se fazer uma reflexão sobre a consciência humana, no seu plano filosófico assim como no religioso. O que é ser “humano” quando um organismo artificial é em tudo semelhante ao seu criador? Se consegue criar e apreciar arte, ter consciência da sua própria existência e mortalidade, o que sobra? Então toda a narrativa gira em torno da empatia, do sentir algo pelo nosso semelhante, de olhar além de si mesmo, da sua solidão e de sentir que se faz parte dessa entidade colectiva a que chamamos humanidade. Até os animais passaram a ser tesouros venerados por serem as outras únicas formas de vida. A religião que seguem, o Mercenarismo é a certo ponto desmascarada pelos ciborgues como nada mais que uma criação cinematográfica mas rapidamente a reação dos humanos é negar totalmente esse facto.
Toda esta reflexão e ideias são muito boas mas foi a sua execução que mais me custou. A escrita de Philip K. Dick é fria, pouco emocionante. Em momento algum senti empatia por nenhum dos personagens. Por vezes sentia a leitura arrastar-se e não tinha o menor interesse em virar a página. Como é que alguém que tem tão boas ideias consegue escrever de uma forma tão insípida? De uma forma talvez inocente achei que iria reencontrar no papel alguns dos diálogos vistos em filme mas esses não estavam lá. É esta a minha grande desilusão com esta obra de FC, o não ter sentido nada por ela.
Pontos positivos: As ideias, o mundo criado.
Pontos negativos: A escrita.
Estado de espírito: Boa mas tive de intercalar a leitura deste livro com outros para compensar a falta de excitação.
Fez-me refletir sobre: A consciência humana.