13.10.11
Há muito tempo que queria escrever sobre este assunto e fiquei inspirada a fazê-lo quando li este texto publicado no blogue Dear Author.
Eu considero-me muito afortunada por poder trabalhar naquilo que gosto. Estudei para ser Assistente de Administração (nome politicamente correcto para o mais conhecido “secretária”) e gosto de o ser. Tenho, ao fim de 10 anos de experiência, uma noção bem clara do que é fazer este trabalho, o bom e o mau, o deve e não deve fazer, o glamoroso e o humilhante, etc. E talvez por ter essa noção tão clara acabo por nunca usufruir de um livro, série ou filme que envolva secretárias.
Toda a gente parte do princípio que sabe o que é ser secretária e não é surpreendente que o mesmo aconteça com os escritores que nunca o foram. Aqui ficam alguns estereótipos ligados à profissão:
Sempre uma mulher
Começo pelo mais óbvio e pelo mais verdadeiro mas também o mais politicamente incorrecto. Sendo de facto uma profissão com mais mulheres que homens a exercê-la é errado pensar-se que SÓ uma mulher é que faz bem este trabalho. Não! Então porque é que nunca li um secretário num livro? Porque é que o ÚNICO assistente homem da “Betty Feia” era gay?
Sou secretária só de passagem
Por vezes nos livros ou filmes a personagem só é secretária ou assistente porque não arranja o emprego que realmente quer e sonha e por isso, vai ser secretária. Porque toda a gente consegue ser secretária. E é fácil, e pronto. Acrescento que na vida real as pessoas também pensam assim.
Eu considero-me muito afortunada por poder trabalhar naquilo que gosto. Estudei para ser Assistente de Administração (nome politicamente correcto para o mais conhecido “secretária”) e gosto de o ser. Tenho, ao fim de 10 anos de experiência, uma noção bem clara do que é fazer este trabalho, o bom e o mau, o deve e não deve fazer, o glamoroso e o humilhante, etc. E talvez por ter essa noção tão clara acabo por nunca usufruir de um livro, série ou filme que envolva secretárias.
Toda a gente parte do princípio que sabe o que é ser secretária e não é surpreendente que o mesmo aconteça com os escritores que nunca o foram. Aqui ficam alguns estereótipos ligados à profissão:
Sempre uma mulher
Começo pelo mais óbvio e pelo mais verdadeiro mas também o mais politicamente incorrecto. Sendo de facto uma profissão com mais mulheres que homens a exercê-la é errado pensar-se que SÓ uma mulher é que faz bem este trabalho. Não! Então porque é que nunca li um secretário num livro? Porque é que o ÚNICO assistente homem da “Betty Feia” era gay?
Sou secretária só de passagem
Por vezes nos livros ou filmes a personagem só é secretária ou assistente porque não arranja o emprego que realmente quer e sonha e por isso, vai ser secretária. Porque toda a gente consegue ser secretária. E é fácil, e pronto. Acrescento que na vida real as pessoas também pensam assim.
Depois é retratado como sendo um Inferno na Terra: o chefe é o Diabo, o telefone é o instrumento do mal, etc... Coitadinha da personagem que queria ser jornalista, designer, pintora, escritora e acabou naquele lugar maldito! Exemplo: O Diabo veste Prada. Só que no fim ela até admite que gostou do trabalho (vá lá...) mas mesmo assim ser jornalista é melhor. Eu detesto isto porque é visto como um trabalho menor, uma segunda ou última opção. Compreendo que é complicado perceber que alguém sonhe em ser cangalheiro ou secretária mas há quem goste de o ser. E quem gosta não o vê como profissão de segunda categoria.
A Secretária Sexy
Experimentem correr o dia todo em chão flutuante com saltos altos e saia travada, ter que tirar dossiês de prateleiras baixas com grandes decotes e vão perceber porque é que este é um esterotipo tão idiota. Ok, compreendo “a fantasia”, mas para mim é um grande “turn off” ter de ler coisas do género porque é bastante deslocado da realidade. Pior, vestuário sexy pode dar um ar vulgar à pessoa, pouco profissional, logo é errado de todas as maneiras possíveis e inimagináveis. Ora eu tenho uma amiga minha enfermeira que se recusa a vestir-se de enfermeira sexy no Carnaval exactamente pela mesma razão: é engraçado mas não é real. O mesmo acontece-me quando surge um personagem secretária com vestuário sexy num livro: já sei que não vou gostar do que vou ler a seguir.
O chefe é o herói romântico
Isto é muito frequente nos romances de cordel da Harlequin e outros do género: ela é uma donzela secretária que se apaixona pelo chefe delicioso, que é rico e poderoso e ela passa de miserável trabalhadora por conta de outrem para esposa. MAIS!! Para se adequar à realidade do Séc. XXI ela acrescenta: “Ah mas eu quero continuar a trabalhar e a ser independente!” *mega revirar de olhos*. Basicamente esta é apenas outra versão de “sou secretária só de passagem” com a mega agravante que dorme com o chefe, que é um grande erro. Não existem chefes sexy, apenas chefes! Não, não, não e não!
A Secretária Sexy
Experimentem correr o dia todo em chão flutuante com saltos altos e saia travada, ter que tirar dossiês de prateleiras baixas com grandes decotes e vão perceber porque é que este é um esterotipo tão idiota. Ok, compreendo “a fantasia”, mas para mim é um grande “turn off” ter de ler coisas do género porque é bastante deslocado da realidade. Pior, vestuário sexy pode dar um ar vulgar à pessoa, pouco profissional, logo é errado de todas as maneiras possíveis e inimagináveis. Ora eu tenho uma amiga minha enfermeira que se recusa a vestir-se de enfermeira sexy no Carnaval exactamente pela mesma razão: é engraçado mas não é real. O mesmo acontece-me quando surge um personagem secretária com vestuário sexy num livro: já sei que não vou gostar do que vou ler a seguir.
O chefe é o herói romântico
Isto é muito frequente nos romances de cordel da Harlequin e outros do género: ela é uma donzela secretária que se apaixona pelo chefe delicioso, que é rico e poderoso e ela passa de miserável trabalhadora por conta de outrem para esposa. MAIS!! Para se adequar à realidade do Séc. XXI ela acrescenta: “Ah mas eu quero continuar a trabalhar e a ser independente!” *mega revirar de olhos*. Basicamente esta é apenas outra versão de “sou secretária só de passagem” com a mega agravante que dorme com o chefe, que é um grande erro. Não existem chefes sexy, apenas chefes! Não, não, não e não!
A mãe-melhor-amiga-capacho secretária
Nesta última categoria de estereótipos entra aquela pessoa que até é uma secretária competente, até se veste de uma forma recatada e cujo chefe não é o seu objecto de desejo. Ela é sempre retratada como feia, velha ou gorda, ou os três, que é adorável como uma mãezinha, que conhece o chefe como uma boa amiga e se ele assobiar ela rebola e dá à cauda. Lindo, não é? Ah, ela nunca é a protagonista, nunca. Se for é a Betty Feia e mesmo assim não tem piada nenhuma (Deus sabe como aquela série se enrolou em mais estereótipos).
O que é uma secretária afinal?
Com tantos estereótipos é difícil perceber no que é que sobra. Acho que poucos sabem e a maioria dos escritores ainda menos. Por vezes as profissões dos personagens são apenas adereços, como a roupa e não parte do que é aquela personagem. E é essa desconexão da personagem e sua função, adicionando os estereótipos mencionados que me fazem odiar livros, séries e filmes que retratam mal as secretárias.
Com a exepção de uma: Mad Men.
Apesar de algumas das secretárias de Mad Men caírem nalguns dos estereótipos que mencionei e a série de TV retratar uma época de há 50 anos atrás, muito do que ali acontece, acontece ainda hoje: As hierarquias, as conversas de escritório, o saber estar no seu lugar, saber quando e como intervir. Mais do que isso, mostram a perspectiva da mulher, além do fato, das mamas ou da relação com o chefe e porque é que ela age assim. Mostra o stress das tarefas e a importância de saber gerir egos e pessoas enquanto a preciosa Xerox precisa que lhe mudem o toner.
Tudo o resto, lido ou visto, é mau aos meus olhos e é por isso que eu não gosto de ler livros com personagens com a minha profissão.