Nota: Este vai ser um daqueles textos super-chatos sobre homens e mulheres por isso podem parar de ler agora.
Há dias vi o brilhante "Trainwreck" e, como é normal, quis partilhar a experiência com o gajo. Porque isto das relações tem muito a ver com a partilha e, como nós temos o mesmo sentido de humor e rimos das mesmas coisas parvas é natural que ele goste de algo tão espectacular como este filme porque eu também gostei, certo?? Pois, errado 😒. Ao fim de meia-hora e de ouvir apenas as minhas próprias gargalhadas percebi que estava quase a dormir no sofá. De tédio.
Por falar em tédio, vi o primeiro "Ted" há uns meses, por alturas de sair o segundo no cinema. Os argumentos com os quais fui persuadida foram os mesmos: "Eu gostei, vais gostar de certeza..." Não. Simplesmente não. Acho que me ri umas duas vezes. Mas aguentei estóicamente até ao fim. Ponto para mim!
Percebi, depois desta experiência caseira, que:
- o humor está a mudar. Antes um filme de comédia fazia rir homens e mulheres de forma (mais ou menos) igual. Hoje em dia até que encontremos um filme em que os dois acabamos às gargalhadas com lágrimas nos olhos é caso sério.
- haverá sempre algo que nunca entenderemos no sexo oposto. Porque raio é cómico um urso debochado que leva prostitutas para casa? Ou numa mulher que vomita enquanto assiste a uma cirurgia?
- Por falar em deboche, acho que é exactamente este o ponto fracturante. O Ted é filme para meninos maus, Trainwreck é filme para meninas más. Ou melhor, que gostariam de o ser. Apesar do tom mais carroceiro, são filmes igualmente púdicos e tradicionais: ambos acabam com o felizes para sempre. Ou até à sequela. De qualquer forma, ambos incomodam o sexo oposto porque nos obriga a ver como normal ou aceitável coisas que já nos dão comichão. Coisas como a banalidade do sexo ocasional, a utilização de linguagem obscena A TODA A HORA, ou a forma díspare de como cada uma das partes se apaixona e compromete "para sempre".
E pelas razões apontadas antes (e tantas outras mais que não me lembro agora) é que nós (ambos os sexos) nos remetemos a um silêncio desconfortável quando visionamos um destes dois filmes.
Há também a questão do feminismo e a troca de papéis de sexo. Desculpem mas tinha que ir por aí.
Em Ted, o que mais me incomodou foi ver a Mila Kunis de 32 anos ao lado de um Mark Wahlberg de 44 anos (mas porque raio Hollywood insiste a meter homens velhos com miúdas novas??) remetida ao papel de namorada chata e cockblocker. Em Trainwreck a Amy (protagonista) é quem tem dificuldades em se comprometer com alguém, que de uma forma ou outra tem um comportamento "à homem". E os homens do filme são autênticas gajas. E nós percebemos isso de uma forma clara e transparente porque estamos tão habituados ao "quem é o quê" que se torna cómico ver tudo ao contrário. Pelo menos eu achei.
Mas é aqui que eu quero chegar: podemo-nos justificar com linguagem, sexo, perda de valores e moral mas a verdade é apenas uma: há uma caixinha. É mais confortável para os homens manterem-nos na caixinha. Nós mulheres já conhecemos as dimensões da caixinha, do que é feita, quem a fez e tudo o resto e estamos fartas. Estamos fartas de sermos remetidas à caixinha. De sermos a namorada mais nova nas comédias românticas. Ou a gorda de quem ninguém gosta até que o bonzão da escola percebe o quanto somos maravilhosas e únicas. Ou a miúda gira e adorável que cozinha maravilhosamente e tem ancas de parideira. Já não achamos piada mesmo que esse seja o sonho supremo de alguém.
Ted e Trainwreck incomodam? Sim. Por razões diferentes? Sem sombra de dúvida. Agora só falta o filme com a mensagem de Trainwreck adaptado ao paladar dos fãs de Ted. E uma sequela. Com um namorado diferente e mais novo também, só porque sim.