Está
quase a fazer um ano que li o "The Iron Duke", um livro que me surpreendeu pela sua originalidade e qualidade. Andei tão entusiasmada durante e pós a sua leitura que o sugeri a todos os
booklovers que conheço mas, apesar dos meus esforços, só consegui fazer duas vítimas.
Decidi reler o livro agora, antes do lançamento do segundo livro da saga "Heart of Steel" e pensei que seria bem mais interessante se, em vez de reescrever a minha opinião, pedir às minhas duas vítimas,
White_Lady e
Janita Lima, para conversarem comigo sobre o que acharam deste livro.
Nota: É provável que surjam spoilers aqui nesta nossa conversa.
(Re)ler o The Iron Duke - Parte 1 de 2
Tchetcha: Eu sei que fui muito entusiasta a falar do “The Iron Duke” desde que o li, e usei todo o tipo de argumentos para que vocês o lessem. O que foi que te convenceu e que expectativas tinhas antes de o ler?
White_Lady: Comecei a lê-lo porque não tinha mais nada! Estou no gozo. :D Comecei a lê-lo em férias, quando andava por outros locais e tinha levado o Kindle. Depois de ler um romance fofo apetecia-me algo mais quente e lembrando-me de como tinhas adorado o livro e tinha steampunk (algo que andava a pensar ler pois o último tinha sido "A Corte do Ar" do Stephen Hunt) pensei dar-lhe uma hipótese.
Esperava unicamente um tempo bem passado, mas surpreendeu-me logo! O que eu julgava um romance histórico, como os da Julia Quinn ou Laura Lee Guhrke, a retratar uma sociedade vitoriana ainda que com elementos steampunk, começava com um corpo congelado a cair do céu! A partir daí fiquei rendida.
Na verdade, e olhando para trás, já devia estar preparada para isto, afinal de contas tinha lido o conto "Here There Be Monsters", não era como se estivesse a ler algo da autora pela primeira vez. Mas não deixou de surpreender e a partir daí devorei o livro. O mundo onde se passa a história, e que me tinha deixado curiosa depois de ler o conto, agarrou-me e durante a leitura nada mais existia para mim. A história alternativa que a Meljean apresenta deixou-me fascinada e sedenta por mais, fui mesmo pesquisar ao seu blog que alterações tinha feito à História Mundial e até me levou a tentar descobrir mais sobre hordes mongóis.
Além disso, a tecnologia também me deixou surpreendida. Já havia gostado do conceito no conto e poder entender mais sobre o que estava e que efeito tinham os agentes nano foi muito curioso.
Por fim as personagens. Aqui também fui surpreendida. É verdade que temos o alpha male, como em outros romances, mas a heroína é completamente atípica, tendo um emprego e sendo parte de uma minoria.
Quaisquer expectativas que tinha, a autora conseguiu ultrapassá-las todas e construir uma boa história, com tudo o que gosto: aventura, mistério, romance... Esperava uma coisa e deu tanto mais. Foi uma belíssima surpresa.
Janita: Ora bem, eu acho que fui mesmo a última vítima, cedi quando vi a reacção da White_Lady e enquanto via a troca de ideias/experiências entre as duas... Como há uns tempos que andava a explorar o steampunk, lá arranjei o ebook do "The Iron Duke". Da primeira página à última levei menos de uma semana, numa montanha russa de aventuras e emoções.
Este foi o primeiro trabalho que li desta autora, só tive acesso aos contos e antologias em que participou depois da leitura do "The Iron Duke", por isso parti para esta leitura sem qualquer tipo de expectativas, para além do entusiasmo que via nas conversas entre vós. Sabia que de certeza que ia ser uma viagem interessante, não sabia era quão interessante! ;)
O que me fez mesmo pegar no livro foi quando em amena cavaqueira, referiram que além do romance, além do steampunk, existia também uma boa trama por trás, uma boa história de mistério e investigação... já todos sabem como sou com estas coisas de romances fantásticos, mas sentia que todos eles falhavam num bom plot fora da relação sobre a qual assentavam... e voilá encontrei o "The Iron Duke".
Tchetcha: Lá está: eu também peguei nele porque procurava um romance "steamy" mas hoje tenho alguma dificuldade em colocá-lo nessa categoria apenas, pelas aventuras e pelo mistério que contém. O romance ocupa talvez um terço de toda a história mas por vezes isso é o suficiente para dissuadir certos leitores de o lerem. Acham que, neste caso, o romance enfraqueceu ou melhorou a história?
White_Lady: A meu ver não é uma questão de melhorar ou enfraquecer, acho que completa a história. Como a Janita disse, há muitos romances fantásticos que falham no plot. Este acertou no plot mas sem o romance não seria uma história tão completa. Seria um mistério como outros, provavelmente sem espaço para crescimento de personagens. O romance possibilita isso. Ambos os protagonistas sentem que para merecer o outro tem de ser melhores do que são, têm de ultrapassar problemas para se relacionarem. Acho que qualquer leitor se identifica com isso, mais do que com o viver aventuras.
Janita: Eu acho que o romance é uma parte muito importante em "The Iron Duke", guiando e motivando muitas das acções dos personagens. Incentivando-os a mudar, melhorar e evoluir... por isso na minha opinião o elemento romance sem dúvida melhorou a história (só de imaginar o livro sem essa parte, até me arrepio! ;)) Em livros do género (fantástico, ficção-científica, steampunk, etc), bons personagens complexos e tridimensionais, são essenciais para agarrar o leitor, isto porque no meio de um ambiente diferente do mundo real, eles são um dos poucos pontos de identificação do público.
Apesar de ser um romance "steamypunk", o romance dá espaço ao desenrolar de toda uma história que agrada aos leitores que não apreciam tanto os romances "habituais" (que se desenrolam em torno de um casal e dos seus problemas, e o resto sub-plots e world building ficam para terceiro plano)... acredito que "the Iron Duke" até consiga algumas "conversões"... ;)
Tchetcha: Continuando a falar do romance, mais especificamente dos seus protagonistas: O Rhys Trahaearn, ou seja, o "Iron Duke", é um verdadeiro troglodita durante dois terços do livro. Todas as abordagens que faz à Mina são muito ousadas, directas e até rasam o inapropriado, dizendo constantemente que está habituado a tomar o que quer, o que torna muito difícil de compreender como é que aqueles dois vão acabar juntos. Qual foi a vossa perspectiva em relação ao Rhys e houve alguma cena em particular que vos fez mudar o vosso afecto a ele?
White_Lady: Já estou habituada a heróis românticos como o Rhys, daí que quanto muito a sua interacção com a Mina tenha suscitado, nalguns casos, alguns revirar de olhos. Ele é o típico alpha male, que ao entrar numa sala transpira masculinidade por todos os poros e há duas ou três damas mais sensíveis que desmaiam fulminadas por tanto sex appeal. Para dizer a verdade, costumo ser algo indiferente ao herói no início do livro, mesmo quando suspiram imenso quando ele aparece e descrevam os músculos ao pormenor. Ele tem de me conquistar conforme conquista a heroína e muitas vezes o afecto muda quando a heroína também o faz.
Neste caso em concreto não consigo identificar o momento em que a alteração se dá, em que passei da indiferença ao "OMD ele tem mesmo que ficar com ela!", porque a coisa deu-se de forma tão gradual que parece que sempre lá esteve (não sei se me faço entender :/ ). Talvez se tenha dado depois de um certo acontecimento que o faz perceber que as suas abordagens afinal magoam a Mina, mas confesso que não tenho a certeza. Além disso, a meio do livro distraí-me com outra personagem, mas isso fica para o livro que se segue... :D
Janita: Posso fazer minhas as palavras da White_lady?! :) Realmente o Rhys é o típico alpha, super convencido dos seus atributos e capacidades de sedução. Tal como a Mina, durante um terço do livro andei um tanto ao quanto desorientada quanto às verdadeiras intenções dos avanços dele. O outro, tal como a protagonista, o Rhys mexia com os meus nervos...aparecia sempre nos sítios mais inconvenientes, fazia a Mina perder a compostura nos sítios mais inapropriados e perigosos, e depois de nariz empinado e com o sorriso do gato que acabou de comer o canário ia embora. Juro que durante uns tempos o homem irritou-me a valer, o convencido!
A cena que me fez acreditar nas verdadeiras e "honoráveis" intenções dele, foi quando a Mina e o Rhys se encontravam no dirigível da Yasmeen (desculpem mas neste momento não me recordo do nome). A Mina sobe à proa e o Rhys aconchega-a no casaco dele (desculpem mas aqui tem mesmo que ser um *squeee*). Aí fiquei com a pulga atrás da orelha e comecei a ver que a fachada que ambos exibiam ao mundo e um ao outro, tinha fissuras enormes e que a qualquer momento ia desabar.
White_lady será que a tua distracção é a minha também?! *wink wink*
Tchetcha: Talvez por estar a relê-lo agora estou com a memória mais fresca mas para mim foi aquela cena de ela escrever a nota a dizer que aceitava e ele dizer que nunca a leu porque queria que ela estivesse com ele de livre vontade e não como um pagamento. Aí eu pensei: afinal até não és assim tão pirata! :D
Quanto à Mina ela é uma heroína fantástica, não é? Para mim o livro devia se chamar "The Detective Inspector Wilhelmina Wentworth" porque ela é que enfrenta os maiores desafios e fá-lo de uma forma tão corajosa. Adorei tudo nela, até ao facto de ter de ser tratada por "Sir". Quero mais personagens femininas assim!
White_Lady: Sem dúvida! Se há coisa que me aborrece em romances, e não só, é escreverem protagonistas femininas que desmaiam por um qualquer motivo estúpido, que são constantemente "damsels in distress" à espera que um qualquer herói as venha salvar, e cuja ambição é casar e ter filhos. Como se uma mulher só fosse feliz assim! A Mina é uma personagem forte, que enfrenta o mundo todos os dias (já que é vítima de racismo devido às suas feições), não se deixa esmorecer perante as dificuldades e tem uma carreira, um emprego no qual excede qualquer um e que deve tal às suas verdadeiras capacidades, sem qualquer uso de artifícios. É um verdadeiro exemplo de uma mulher forte e independente.
Janita: Oh essa cena foi tão fófi! O Rhys apesar de se esforçar muito, não consegue manter a fachada de pirata muito tempo, quando enfrenta a Mina (no fundo é um poço de integridade e cavalheirismo), adoro-o por isso e por muito mais, mas agora é tempo de falar da Mina.
Contem comigo também, tenho alguns problemas em "engolir" as típicas protagonistas de romances, sejam eles paranormais ou não! Nos dias de hoje, poucas são as mulheres que são assim. Realmente deveriam haver mais heroínas como a Mina, mulheres tão fortes, tão determinadas, tão independentes, que por vezes estão tão concentradas em salvar o mundo, os amigos, e resolver mistérios que se esquecem delas, da sua felicidade. Adorei a força da Mina, da sensação de fatalismo que a relação entre ela e o Rhys teve durante a viagem de dirigível e depois no Marco's Terror. Amei o sentido de sacrifício dos dois e a forma como os dois aproveitam os poucos momentos que têm de paz...
Tchetcha: E como eles aproveitam... *suspiro*
Amanhã: (Re)ler o The Iron Duke - Parte 2 de 2