Resumo: A história começa com Fernando Pessoa, que atravessa um momento mais fragilizante da sua vida. Incapaz de lidar / aceitar a morte da sua mãe, procura uma forma de comunicar com esta. Após uma sessão espírita aparentemente sem resultados reais, Fernando Pessoa emerge no mundo da magia e oculto, levando-o a entrar em contacto com a obra de Alestey Crowley, o mago britânico. Sem segundas intenções, Pessoa envia a Crowley uma carta a corrigir-lhe o horóscopo e é este primeiro contacto que catalisa o encontro entre ambos em Lisboa. Alestey Crowley é um mago britânico que, no momento em que entra na narrativa, também está a atravessar um momento menos bom. Através de um conhecido, chega-lhes às mãos um livro em que descreve como se cria um homúnculo e o seu fascínio pelo culto Sebastianista desperta. Quando recebe a carta de Pessoa percebe-a como um sinal e dirige-se a Lisboa para descobrir mais. Ambos seguem as pistas mas rapidamente descobrem que estão a ser vigiados por um determinado grupo de indivíduos que os querem afastar da sua investigação. Crowley percebe onde está D. Sebastião e através de um ritual de Magia feita na Boca do Inferno, teletransporta-se para Daath, onde lhe é dito que D. Sebastião está perdido para sempre. Quando regressa à Terra, percebe que apenas passara meia-hora e resgata Fernando Pessoa que entretanto tinha sido raptado por um dos membros da organização dos Trezentos. Apesar de salvar Pessoa e regressarem sãos e salvos às suas vidas, não conseguem derrubar os Trezentos, que são uma organização poderosa que deseja controlar o mundo.
Crítica: Foram várias as razões pelas as quais não gostei deste livro. Vou começar pela mais óbvia e, para mim, a mais dolorosa: o vocabulário. Tratando-se de um livro que aborda uma imensidão de termos esotéricos e do oculto, dei por mim a ler três e quatro vezes o mesmo parágrafo e a pensar: “Mas o que é isto?” E isto aconteceu em quase todas as partes em que a história foca o mago inglês. Fez-me sentir tão perdida e tão ignorante que desisti de tentar entender, limitei-me a tentar terminar o livro. Se eu hoje relesse a Conspiração, saltaria toda a parte que foca o Alestey Crowley, directamente para a parte em que este recebe o Livro de Ollanda das mãos do amigo. Alestey Crowley é, sem dúvida, um dos personagens mais nojentos que já tive o “desprazer” de ler. Isso remete-me a outro ponto: Que eu não sou o público-alvo deste livro. De modo algum. Apesar de gostar de ver terror, começo a perceber que ler terror é para mim um fastio, difícil de ultrapassar. Acho que vou demorar anos a apagar da minha mente o Alestey Crowley a provar as próprias fezes. Gostei da interpretação que David Soares fez de Fernando Pessoa, com toda a sua fragilidade e solidão auto-impostas, mas é lamentável que se perca tantas páginas em diálogos do oculto e esotérico (ou seja, todos aqueles parágrafos que não percebi do que falavam) quando depois, todos os momentos em que Fernando Pessoa e Crowley estão juntos, são realmente interessantes e empolgantes. A dinâmica do duo foi sem dúvida o ponto alto do livro, em que foi fácil acompanhar-lhes o raciocínio e foi aí que senti que a trama avançava com ritmo. Por fim, gostei imenso da organização dos Trezentos, encabeçados pelas experiências falhadas de Ollanda. O facto de serem híbridos entre humanos e insectos, e a forma como surgem na história, é surpreendente, empolgante e muito original. Fiquei a salivar por mais, assim como pelo mundo de Daath.
Expectativa e estado de espírito: Não vou mentir que tinha expectativas muito altas para este livro. Primeiro porque há poucos ou nenhuns escritores a fazer o que David Soares faz: a pegar na mitologia e história portuguesa e a escrever sobre ela, de uma forma ficcional. Segundo, porque Fernando Pessoa é um dos meus escritores favoritos de sempre, e a oportunidade de lê-lo como personagem de uma história, era única. Mas ao longo da leitura, toda a boa vontade que existia no início foi desaparecendo aos poucos e foram muitas, muitas vezes que quase abandonei o livro. No final do livro o autor disponibiliza notas explicativas que ajudam bastante à compreensão do que se leu e o porquê de ter optado por tocar determinados momentos da vida dos personagens. No entanto, não deixo de sentir isso como insuficiente, porque acho que a narrativa deveria explicar-se por si só, o que não aconteceu.
Pontos Positivos: Os líderes dos Trezentos, as descrições de Lisboa, Pessoa e Crowley como dupla de investigação.
Pontos Negativos: O vocabulário demasiado rebuscado, cenas muito longas que não contribuem para a narrativa.
Fez-me reflectir sobre: Conspirações, luto, sonhos.